sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Brechas



Acabo de ouvir uma boa parte da entrevista de Maria Flor Pedroso a Carlos Carvalhas, ex- secretário geral do PCP, e fico espantado. Então não é que C.C. reconhece, quase explicitamente, que Sócrates ia no caminho certo ao bater-se contra o pedido de intervenção estrangeira e que foi um erro chumbar o chamado PEC IV, que arrastou o país para a inevitabilidade desse pedido de intervenção?

É uma entrevista interessante que mostra que, apesar do habitual discurso monolítico de “esquerda impoluta” do PCP – do qual Carvalhas ainda não se livrou -, começam a abrir-se (boas) brechas. Ouvi o ex-secretário geral falar da de re industrialização, da política europeia, da economia,  tudo numa perspectiva integradora e já não apenas na habitual postura reivindicativa e contestatária.   Admitiu também a  possibilidade/necessidade de se formar um governo de emergência na base duma coligação do PCP-BE-PS, tal como propôs há dias o antigo e prestigiado dirigente do PCP, Carlos Brito, na festa de homenagem que várias entidades e personalidades lhe promoveram,  e à qual nenhum membro da atual direção do PCP se dignou estar presente.  

Sempre me fez confusão o porquê do partidos que se reclamam da esquerda – com exceção do PS -, deixarem o “capitalismo nas mãos do capitalismo”. A filosofia que defendem parece ser  “invistam lá que nós cá estamos para reclamar”. Será que a esquerda não pode empreender, fazer empresas que funcionem numa lógica mais humana e igualitária? Claro que pode. Acho que não o faz porque persiste em alimentar a velha ideia de que só é possível  praticar  a justiça social – construir uma sociedade mais justa – depois de conquistar o poder.

 Nada mais equívoco nos tempos que correm. Ao não apoiar o empreendedorismo, ao manifestar reservas e dúvidas quanto à criação de empresas, ao centrar a sua ação política quase exclusivamente numa só categoria de cidadãos – os assalariados -, acaba por perder a confiança dos próprios assalariados, coloca-se numa situação politicamente subalterna que a esmagadora maioria dos cidadão não aprecia.

ddd

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