Acabo de ouvir uma boa parte da entrevista de Maria Flor
Pedroso a Carlos Carvalhas, ex- secretário geral do PCP, e fico espantado. Então
não é que C.C. reconhece, quase explicitamente, que Sócrates ia no caminho
certo ao bater-se contra o pedido de intervenção estrangeira e que foi um erro
chumbar o chamado PEC IV, que arrastou o país para a inevitabilidade desse
pedido de intervenção?
É uma entrevista interessante que mostra que, apesar do
habitual discurso monolítico de “esquerda impoluta” do PCP – do qual Carvalhas
ainda não se livrou -, começam a abrir-se (boas) brechas. Ouvi o ex-secretário
geral falar da de re industrialização, da política europeia, da economia, tudo numa perspectiva integradora e já não
apenas na habitual postura reivindicativa e contestatária. Admitiu
também a possibilidade/necessidade de se
formar um governo de emergência na base duma coligação do PCP-BE-PS, tal como propôs
há dias o antigo e prestigiado dirigente do PCP, Carlos Brito, na festa de
homenagem que várias entidades e personalidades lhe promoveram, e à qual nenhum membro da atual direção do PCP
se dignou estar presente.
Sempre me fez confusão o porquê do partidos que se reclamam
da esquerda – com exceção do PS -, deixarem o “capitalismo nas mãos do
capitalismo”. A filosofia que defendem parece ser “invistam lá que nós cá estamos para reclamar”.
Será que a esquerda não pode empreender, fazer empresas que funcionem numa
lógica mais humana e igualitária? Claro que pode. Acho que não o faz porque persiste
em alimentar a velha ideia de que só é possível praticar a justiça social – construir uma sociedade
mais justa – depois de conquistar o poder.
Nada mais equívoco
nos tempos que correm. Ao não apoiar o empreendedorismo, ao manifestar reservas
e dúvidas quanto à criação de empresas, ao centrar a sua ação política quase
exclusivamente numa só categoria de cidadãos – os assalariados -, acaba por perder
a confiança dos próprios assalariados, coloca-se numa situação politicamente
subalterna que a esmagadora maioria dos cidadão não aprecia.
ddd
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