segunda-feira, 12 de março de 2018

Hipocrisia verde


Face às alterações climáticas cuja evidência é atestada pela quase unanimidade da comunidade cientifica, o mundo dito desenvolvido adota estratégias hipócritas de combate ao aquecimento global. O documentário abaixo reproduzido parece ser uma comprovação desse facto.
Nas últimas semanas o frio glaciar deslocou-se do Polo Norte para regiões temperadas. Países como a Bélgica registaram 18 graus negativos. Em contrapartida o Polo Norte registou temperaturas positivas, 25 graus acima do que é habitual nessa região, coisa de que não há memória. A natureza na sua tendência para restabelecer os seus equilíbrios altera rotas dos ventos e correntes marítimas provocando tempestades tropicais e vagas de frio glaciar, com enorme impacto em zonas do globo não habituais. E tudo isto parece tender a agravar-se. Rapidamente.
Incontestavelmente os efeitos ambientais anómalos que vão ocorrendo por todo o mundo e que tendem a aumentar de intensidade, frequência e dramatismo, são fortemente induzidos pelo impacto do nosso estilo de vida sobre o planeta, designadamente pelo aumento exponencial da emissão de gases com efeito de estufa produzidos pela nossa indústria.
Fala-se deste problema, claro - era inevitável -, mas pouco na sua génese que permanece incólume. Sabe-se que é consequência da dependência dos combustíveis fósseis, do consumismo irracional e excessivo, do uso inadequado da energia. E sabe-se também que há alternativa viável para obviar a este estado de coisas: aposta massiva e sistemática na educação ambiental; adoção de políticas amigas do ambiente (habitação, consumo e transportes, mais racionais e energeticamente eficientes); incremento da substituição do petróleo e do carvão por energias renováveis, entre elas, claro está, a da bioenergia. Tudo isto é comprovadamente praticável e pode ter vantagens acrescidas em termos económicos, de saúde pública e de melhoria geral da nossa qualidade de vida.
Há pois alternativas ao petróleo. Mas as guerras da Líbia, da Síria, do Iraque, do Iémene, entre outros conflitos e focos de tensão atualmente existentes, têm todos em comum o facto de decorrerem em países estrategicamente importantes como produtores de petróleo ou como rotas petrolíferas. Isto é uma clara comprovação de que os países desenvolvidos, designadamente os mais relevantes da UE, não estão interessados numa mudança de paradigma. Pelo contrário, alimentam-no, acirram-no. As pessoas não estabelecem nexos de causa e efeito. Uma propaganda obsessiva e e sistemática, disfarçada de informação, camufla esta dramática realidade.
Em vez de mudar simula-se que se muda. Transfere-se para longe, para locais recônditos, os efeitos negativos do desrespeito pelo equilíbrio ambiental. O que importa é mostrar cidades bonitas, menos poluídas, mesmo que isso não passe de maquilhagem. Alimentam-se conflitos que publicamente se condenam, num vale de lágrimas de crocodilo. Promovem-se regras que se impõem aos outros mas que os próprios não respeitam.
O video anexo parece paradigmático desta hipocrisia verde. Verde, diria, com laivos de vermelho. Vermelho de sangue.

Daniel D. Dias

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/bioenergia-a-dura-verdade_v1061179