sábado, 26 de outubro de 2013
Competição versus cooperação
Há equívocos que se mantêm de forma artificial e que parecem ganhar novo fôlego com as novas TI. O mais grave de todos é provavelmente a ideia de que a competição é a primordial característica humana e que é a partir dela que a humanidade se “salvará”. Está comprovado de inúmeras formas que a sobrevivência da humanidade e o seu sucesso como espécie se deve a outra característica presente em todos os seres humanos – o impulso para a cooperação. O ser humano depende completamente dos seus semelhantes e, nas horas críticas, geralmente responde solidariamente. O ruído dos média conduzido pelos fanáticos do individualismo egocentrista, baralha tudo e abafa atualmente esta realidade. Uma dose comedida de competição pode ser saudável mas se se torna na essência das nossas vidas é mortal.
É falso que o progresso resulte da competição. O progresso resulta sobretudo da busca de soluções e da procura da verdade. A ciência – a mãe do progresso moderno – foi construída na base da cooperação e exigiu elevada abnegação de milhões de seres humanos, que muitas vezes sacrificaram a sua vida por ela. Não se busca a verdade, não se investiga, para ser milionário.
Daniel D. Dias
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Há pouco, na TSF, ouço Francisco Louçã condenar José Sócrates classificando
o “seu” PEC IV como um prelúdio da Troika. Na TVI, há minutos, observo Nuno Melo, do
CDS, em patética sintonia com João Semedo, do BE, a enterrar o Eng. José Sócrates.
Ontem ouvi o vetusto Eduardo Catroga vaticinar o desaparecimento de José
Sócrates ou o seu julgamento…
Não há dúvida: Portugal não precisa de investidores, nem de
políticos honestos, nem de mudar de rumo. Precisa é de alguém como Torquemada à
frente duma legião de exorcistas.
Daniel D. Dias
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Apologias e silêncios
É difícil de superar o apego a
ideias que se revelaram erradas. É um drama corrente: de repente descobre-se
que se estava equivocado acerca do que se acreditava ou do que se defendia…
Pode ser muito difícil de superar esta situação – nem todos logram “dar a
volta” -, que pode mesmo ser indelevelmente traumatizante, mas a pessoa de
carácter nunca a escamoteará com justificações ou atitudes desonestas.
Preferirá mergulhar no silêncio.
Talvez por isso haja por aí brilhantes apologias que não entendo e silêncios que, a cada dia que passa, entendo melhor.
Talvez por isso haja por aí brilhantes apologias que não entendo e silêncios que, a cada dia que passa, entendo melhor.
Daniel D. Dias
Ética nas redes sociais
Se há uma coisa que me aborrece seriamente é a desonestidade
intelectual. Qualquer nível detetado, por mais pequeno que seja, é sempre
indício, de que se pode ir mais além, ou seja, de que não se pode confiar na
pessoa envolvida.
Não sou dos que acham que as pessoas são vis ou perversas
porque não pensam como eu ou porque não perfilham as mesmas opiniões. É normal
haver desacordos. Admito o erro e a ignorância, em mim e nos outros, embora não
os aprecie nem enalteça. Mas apenas o erro e a ignorância; não a desonestidade
intelectual.
A desonestidade intelectual é uma forma específica de
desonestidade que nem sempre é fácil de identificar. Ela é, por exemplo, a ação
de encobrir as reais intenções através da demagogia, ou a deturpação voluntária
de ideias ou factos, para atingir objetivos ideológicos ou defender interesses
escondidos. É também o uso de artimanhas para ampliar a influência ou procurar
obter vantagens, sejam elas de que tipo forem. Tudo isto é feito frequentemente
com muito “engenho e arte”: E há grandes “artistas” na redes sociais…
As redes sociais, designadamente o Facebook, constituem um
fenómeno novo na comunicação global, que pode ajudar as pessoas a contornar os
inconvenientes do isolamento social. Elas representam uma espécie de tribuna
crescentemente acessível a todos, estejam aonde estiverem, pertençam a que
classe pertencerem.
As redes sociais, aproximam as pessoas distantes de forma
simples e acessível, permite-lhes difundir ideias, sensibilidades e gostos dum
modo bidirecional, ou seja, dialogante, coisa que os “media” tradicionais,
quase nunca asseguraram e tendem a assegurar cada vez menos em contraciclo com
as possibilidades abertas pelas novas tecnologias.
Algo tão importante deve ser usado com respeito e ampliado na
sua difusão - designadamente combatendo a infoexclusão ainda existente -, e firmemente
defendido da infiltração abusiva pelas centrais de “intelligentsia”. Mas também
deve ser preservado do uso grosseiro e sobretudo da desonestidade intelectual. É
fundamental pois que os utentes adotem um comportamento ético no uso deste
instrumento. Sem isso este tipo de comunicação perderá credibilidade e está
ameaçado na sua função mais nobre que é comunicar.
É por tudo isto que venho apontar para alguns comportamentos
reprováveis indiciadores da referida desonestidade intelectual que tenho vindo
a detetar no Facebook. São apenas alguns exemplos - haverá mais seguramente - e
não refiro nenhum caso em concreto porque estou convicto que haverá pessoas,
involuntariamente ou induzidas por terceiros, que os cometerão de boa fé. (Quantos
agentes de vendas, involuntários, não haverá por aí…) A saber, pois:
- o expediente de usar os “amigos” de forma encoberta, para
vender algo. Não serão condenáveis as vendas – de ideias, de produtos ou de
serviços - desde que sejam feitas de forma clara, sem margem para dúvidas. Quem
quer vender/promover alguma coisa, deve dizer claramente a sua intenção e não disfarçar
o ato com qualquer pretexto “generoso”.
- métodos equívocos (para não dizer outra coisa) de ampliar
a rede de influência – pessoal ou de grupo -, de engrossar a audiência de
“amigos”. Por exemplo utilizar a defesa duma causa – daquelas que sensibilizam
toda a gente - para ganhar “amigos” ou argumentar com falsas interdições do FB
para levar pessoas a fazer pedidos de amizade.
- atacar ou defender ideias ou pessoas, caluniar ou fazer
insinuações vexatórias, utilizando argumentos deturpados, falsos, fora do
contexto ou de prazo, não citando fontes, ou fazendo referência a falsas fontes
- apoderar-se de textos, documentos, etc., de terceiros, sem
consentimento prévio do(s) autor(es), fazendo-os seus, ou, pior do que isso,
reproduzindo-os de forma
propositadamente equívoca ou deformada
- utilizar o prestigio pessoal – seu ou doutrem - para obter
vantagens, financeiras ou outras, sob o pretexto de contribuir para a defesa de
alguma causa nobre.
Fica aqui esta chamada de atenção como contributo pessoal
para preservar este instrumento de comunicação, que, para muita gente é quase a
única forma de se ligar com o mundo. Se todos dedicarmos alguma atenção a esta
situação estou certo que tornaremos mais difícil a proliferação da desonestidade
intelectual nas redes sociais e dessa forma prestaremos um relevante serviço à
comunidade.
Bem hajam!
Daniel D. Dias
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Vou rezar
O Machete é uma mancha. O Machete é uma lástima. O Machete, ainda
assim, come-nos as papas na cabeça. Porque a oposição não é capaz de ter uma
posição comum. Não age: barafusta. Com
esta oposição o Machete pode estar tranquilo. Ele e os outros capangas que
estão no poder. Tinha razão o banqueiro Ulrich com o famoso "ai aguenta,
aguenta!"...
As batalhas não se ganham com piedosas intenções, com palavras de
ordem, com discursos inflamados, mas com inteligência e entusiasmo. Por esta
ordem - ou simultaneamente - mas nunca um sem a outra: venham as ideias
avançadas, e as estratégias adequadas a cada situação, e esta pandilha
desaparece, pulverizada, como por encanto. É preciso entender que não é a
direita que é forte. É a esquerda que persiste em ser fraca tendo todas as
condições para o não ser como se comprovou nas últimas eleições.
Desculpem. Não há pachorra: vou rezar para ver se o milagre
acontece.
Daniel D. Dias
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Sim, mas...
Henrique Marçal sintetiza num curto post o que é a
preocupação fundamental dos portugueses na atualidade
“A bandeira portuguesa no Castelo de
S. Jorge
O que está em jogo não será a nossa identidade mas sim a dimensão da nossa autonomia! Como vamos nós portugueses dar uma solução duradoura aos nossos problemas? Este quadro político tem de ser reformulado, bem e rapidamente! Sem perda das garantias e liberdades já conquistadas! Haverá engenho para o efeito?”
O que está em jogo não será a nossa identidade mas sim a dimensão da nossa autonomia! Como vamos nós portugueses dar uma solução duradoura aos nossos problemas? Este quadro político tem de ser reformulado, bem e rapidamente! Sem perda das garantias e liberdades já conquistadas! Haverá engenho para o efeito?”
A minha resposta é "sim, mas".
"Sim",
porque o povo português dispõe de massa crítica suficientemente
consistente para superar qualquer crise. Portugal é o país/nação mais antigo da
Europa - dito isto no sentido de que mantém há mais tempo do que qualquer outro
uma unidade cultural, linguística, e territorial invulgar -, o que só por si
representa uma valia fundamental pois demonstra uma capacidade de sobrevivência
exemplar, mesmo nas piores circunstâncias,
"mas"
tem de superar uma idiossincrasia muito peculiar, construída
ao longo séculos, porventura ainda muito antes do estabelecimento da
nacionalidade, que Unamuno, Sérgio, Antero , Eça, Pessoa, entre outros
pensadores, caraterizaram bem.
Interromper a política - ou filosofia -
do "transporte", consagrada na Revolução de 1383 que abre caminho aos
descobrimentos e ao Império, é talvez o passo fundamental.
Portugal habituou-se a resolver os seus problemas essenciais
a partir do exterior ou por influência externa. Dir-se-ia que o crescimento de Portugal
como nação o tornou mais num entreposto político-cultural do que num lugar de sinergias.
Esta característica, que nos transforma no “regresso ao lar”, num povo soturno,
depressivo, abúlico (se calhar o fado –
a canção “nacional” - é algo paradigmático deste facto assinalado exemplarmente
por Unamuno), acaba por nos impedir de aproveitar o nosso lado luminoso e
positivo, que é bem real, e não mitológico como muitos o pintam. Ciclicamente esta
questão é afrontada – o consulado de Pombal é um dos bons exemplos -, mas temos
sempre de recorrer a uma bengala estrangeira (os cruzados a caminho de Jerusalém,
para ganhar a independência, os ingleses para preservar essa independência em
vários períodos críticos, e agora os fundos estruturais da Europa, ou a troika…
Mas há outras). Até a nossa república acaba por ser uma resposta com génese
externa, pois tem seguramente origem no humilhante ultimato inglês de 1890.
Estas bengalas exteriores a que recorremos sistematicamente são
mais pretextos do que necessidades. Acabamos quase sempre por ser nós, quase
exclusivamente, à custa dos nossos recursos endógenos, a resolver as nossas
crises. O factor exógeno – a ajuda que vem de fora - funciona apenas como uma
espécie de catalisador que teve sempre efeitos secundários penalizadores para a
nossa independência.
A intervenção portuguesa no mundo foi o primeiro e decisivo passo
para a globalização. Transformámos a geopolítica do mundo, fomos os primeiros a
proporcionar uma vocação mundial à borracha, à batata, ao café, ao chá, à
canela, mas também à espingarda, à náutica, à ciência e às artes. Por isso não
podemos rejeitar a influência externa. “Mas” temos de usá-la a nosso favor e
não contra nós. Para tanto temos de construir uma elite – no sentido nobre do
terno – que nos liberte dessa síndrome neurótica que uma pequena camada de
privilegiados – sucessora ideológica do partido dos terratenientes derrotado em
Aljubarrota – persiste em cultivar e
fazer ressurgir quando enfraquece, para manter
as suas vantagens.
Daniel D. Dias
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Quebrar o enguiço
Estas eleições autárquicas – apesar do regozijo proporcionado
pela derrota clara deste execrável grupo de malfeitores que atualmente exerce o
poder - deixaram um travo amargo. Se há muito não havia dúvidas de que Portugal
continuava culturalmente a ser o “reino cadaveroso” que Ribeiro Sanches
denunciava no século XVIII, poucas agora restaram: Entre nós o crime continua a
compensar porque a justiça que defendemos está ao nível da nossa (a)moralidade
e da débil cultura cívica e política que praticamos.
O crescimento da abstenção é a principal prova disso. Os quase
50% registados são uma demonstração clara de que estamos mais preparados para
ser governados em ditadura do que a batermo-nos pelo aprofundamento da
democracia. Ou seja: tendencialmente estamos mais disponíveis para aceitar o
retrocesso, do que para progredir. Trocamos facilmente a liberdade e a razão por
uma frágil segurança assente na ilusória estabilidade prometida por gente que
frequentemente nem sequer conhecemos.
Dir-se-á, com razão, que estas eleições também mostraram
aspetos inovadores muito interessantes. Houve experiências de aprofundamento da
democracia que funcionaram e que foram premiadas. Houve demostração de
iniciativas de cidadania com resultados concretos. Mas 50% de abstenção
representa um grande número de pessoas, um número que não tem parado de
aumentar. Por outro lado subsiste essa quase indiferença pelo perfil ético dos
candidatos ao desempenho de cargos públicos. Fica pois um lastro de preocupação.
Tem sido feita a leitura de que a abstenção é um voto de
protesto, contra os partidos, contra o sistema. Talvez seja, mas não deixa de
ser também uma manifestação de incultura cívica e política. Se for um gesto intencional
é como combater um incêndio atirando gasolina para cima. A abstenção não
castigou o poder nem o sistema. Prejudicou sobretudo o campo progressista que,
em muitos casos – com as suas divisões e sectarismos - se auto liquidou
acabando por poupar os partidos do poder a uma queda mais esmagadora.
Maria João Avilez – a aristocrática comentadora da direita
portuguesa mais arcaica -, exasperou-se na noite eleitoral contra a elevada
abstenção que atribuía aos adeptos do PSD. Evidenciando a sua natureza
petulante e pouco dada às coisas da razão, não percebeu que a abstenção é que
salvou o PSD dum resultado ainda mais demolidor… Têm destas coisas este tipo de
analistas. Mas o mais grave é que muita gente, responsável e empenhada na causa
do progresso, não manifeste preocupações com este aspeto da vitória eleitoral.
Como povo parecemos ser mais apreciadores da força do que da
ética. A justiça entre nós, é, há já muito, algo retórico para usar mais como
argumento do como prática. Talvez isto tenha a ver com o facto de termos sido um
dos últimos países a abolir o Tribunal do Santo Ofício, que durante 300 anos,
perseguiu e queimou os espritos mais livres, nobres e cultos, deste (e doutros)
país, organizando regularmente autos de fé para exaltar o feito. Medroso,
inculto e submisso, o povo habituou-se a participar nestes bárbaros espetáculos,
espetando alegremente tições nos condenados a caminho da fogueira, muitos dos quais
já lá chegavam cegos ou moribundos.
Somos herdeiros desta gente e talvez por isso poucos de nós
– a começar pelos próprios juízes - acreditam na justiça. Veja-se como o
concelho mais culto do país exultou com a vitória dum autarca que não teve
reservas em meter a mão no “pote”. Barafusta-se contra a corrupção, maldizem-se
os que abusam do poder, mas tudo isso pouca importância parece ter quando dos
saques e vantagens ilegítimos se utiliza algo que exiba alguma obra… Em
termos de contas somos pouco exigentes, especialmente com os poderosos.
Há, sem dúvida, que relevar o lado positivo destas eleições,
pois, se há coisa necessária nesta altura, é “animar a malta”. Mas há também que
estar atento ao crescimento entre nós da
incultura política e à proliferação da chamada alienação social. As pessoas e
organizações apostadas no progresso devem estar atentas à evolução deste
fenómeno e procurar combatê-lo a todos os níveis, desde o público ao familiar. O
espetro do “reino cadaveroso” continua vivo e só mudando a mentalidade dos
portugueses, elevando o seu nível cultural – especialmente o cívico e político
-, se poderá quebrar este secular enguiço.
Daniel D. Dias
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