É com algum desalento que vou observando o comportamento
aparentemente insólito das pessoas. E digo “aparentemente insólito” porque já
me habituei à ideia de que há sempre alguma coisa que subjaze - ignorada, incompreendida -, a cada um desses
comportamentos insólitos. Exemplos? Basta-me de momento o comportamento dos
eleitores da Islândia que acabam de reabilitar a direita responsável pelo
descalabro bancário que lançou o país na desgraça… Depois do levantamento
contra essa direita, da sua estigmatização pública, do julgamento a que a
submeteram, tudo me parece um jogo de crianças. Estarei enganado? Claro que
estou, só posso estar. Mas continuarei a esforçar-me por entender.
Uma coisa tenho por adquirida: parece existir nas pessoas
uma certa aversão à racionalidade. Admiram-na mas aparentam temê-la. Suspeito
que a razão profunda deste fenómeno talvez esteja no receio de ficar sozinhos mergulhados
nas próprias ideias.
Mas, ainda assim, parece que é mesmo sozinhos, com as ideias
– embora ideias feitas, não ideias próprias - que nos comportamos. A maioria de
nós nem dá por isso mas na realidade antes de apreender alguma ideia já está contaminado
por ela. Poucos são os que conseguem observar alguma coisa, alguma ideia, livremente, com a
frescura de quem olha para pela primeira vez.
O velho ditado oriental que diz “quando o discípulo está
pronto o mestre aparece”, talvez encontre neste fenómeno a sua razão de ser.
Daniel D. Dias