O cidadão comum português está politicamente numa situação complexa.
Na realidade a arma que lhe resta – o voto – tem limitados efeitos pois é
difícil efetuar uma escolha acertada, uma escolha que não tenha “efeitos
secundários” e que tenha alguma utilidade.
Por isso haverá muita gente que preferirá não votar, ou
anular o seu voto, como forma de mostrar o seu descontentamento. O resultado dessa
atitude será porém favorecer a maioria instalada no poder o que acaba por ter
um efeito oposto ao que pretendia. Muita gente, infelizmente, não se aperceberá
que no atual sistema a abstenção ou o voto em branco não têm efeitos nos
resultados finais o que acaba por favorecer os partidos que já estão instalados
e os que tendem a ter maiores votações.
Portanto, para protestar, é preciso ir votar e escolher algum
partido. Mas qual? Obviamente, antes de mais, terá de ser algum partido ou
coligação da qual não faça parte qualquer dos partidos que compõem esta maioria
(PSD-CDS)! A ideia que o poder local é um mundo à parte do poder central – que
está a ser muito promovida - é uma ideia errada, especialmente nas atuais
circunstâncias. É preciso entender que todas as políticas locais serão sempre
afetadas pelo atual poder e que, nesta altura, as questões locais estão
naturalmente subalternizadas pelas questões centrais.
Mas há outro aspeto importante a considerar: o voto no
partido do “coração” pode, em certas autarquias, ajudar a promover os partidos
do poder, ou os seus clones “independentes”.
Basta que ajude a dispersar os votos do partido que esteja mais próximo
de derrotar os partidos desta maioria (ou dos seus clones) que na maior parte
dos casos é o atual PS, de Seguro… Algumas pessoas têm difundido a ideia de que
é preciso votar também contra o PS. Percebo
as razões do apelo mas acho esta ideia profundamente errada. O PS não está no
poder e até voltar a haver condições para lá chegar - se chegar -, muita coisa
certamente ocorrerá. E uma dessas coisas poderá bem ser, uma mudança de
liderança, ou mesmo de orientação política…
Quem quer contribuir para sair da situação que se vive
atualmente, que é uma situação aviltante
e sem perspectiva, deverá pois ir votar no domingo (não se abster portanto), mas deve fazê-lo
estrategicamente, quer dizer, o mais racionalmente possível. Se não quer
favorecer os partidos desta maioria, deve ter em conta a relação de forças existente
na sua autarquia e votar no partido (ou coligação) que melhores condições reúna
para derrubar os candidatos PSD-CDS (ou seus clones “independentes”). Seja ele qual for, incluindo, naturalmente, o
PS.
Daniel D. Dias